Chame o síndico, ele resolve


Nilson Furtado, 54 anos, conhece o Edifício Luis Rocha, na QNM 12 de Ceilândia, como a palma da mão. Ele é síndico do local há 14 anos — eleito sete vezes consecutivas para o cargo. Sabe cada detalhe do regimento interno, está por dentro de todas as necessidades do prédio e aprendeu a melhor forma de lidar com cada tipo de morador: os reclamões, os barulhentos, os desorganizados, os que demoram a pagar as contas, entre outros. Segundo Nilson, ele precisa tratar situações tão variadas no dia a dia que nunca tem uma rotina fixa. “Resolvo problemas de A a Z, mas, principalmente, os relativos aos quatro Cs: canos, cachorros, crianças e carros”, conta. A vasta experiência lhe rendeu reconhecimento e, hoje, ele se dedica exclusivamente à função de síndico. Já chegou, inclusive, a cuidar de três prédios diferentes ao mesmo tempo. Ainda que a atividade exija muito esforço, ele garante que vale a pena. “Ver o prédio funcionando bem é algo muito prazeroso.”

Segundo a Associação de Síndicos e Subsíndicos do Distrito Federal e Região Metropolitana (Assosíndicos), existem 15 mil condomínios na unidade Federativa, além de 2 mil nas cidades do Entorno. Todos eles devem contar com um síndico, como determina o Código Civil e a Lei nº 4591/64. Saber administrar recursos, resolver os mais diversos conflitos, cuidar do patrimônio e até fazer as vezes de psicólogo são apenas algumas das habilidades necessárias para quem ocupa o posto. Para dar conta de tudo, muitos síndicos precisam dividir o tempo entre a gestão do edifício, o próprio trabalho e a família. Por isso, é comum que falte gente com a disposição necessária para assumir a função. Quem decide encarar o desafio dá exemplo de dedicação e competência.

É o caso de Valéria Costa Cardoso, 48, síndica do Edifício Saint Peter, na CNB 10 de Taguatinga, há nove anos. Ela concilia os deveres no prédio com a carreira de designer de interiores. “Como resolvo muita coisa do condomínio na internet, dá para levar adiante as duas ocupações. Mas é preciso estar sempre alerta caso surja algum problema”, acrescenta. Os primeiros meses do mandato foram os mais difíceis. Logo depois de assumir o cargo, descobriu que o encarregado anterior tinha deixado uma dívida de R$ 30 mil. “Foram três anos para conseguir pagar tudo e começar a fazer as obras que o prédio precisava. Ser síndico exige muita responsabilidade”, conta.

Ainda que cuidar da contabilidade de um prédio pareça uma tarefa complexa, a maioria dos síndicos garante que o grande desafio é lidar com os condôminos. “É complicado. Quando acontece algum desentendimento entre vizinhos, cada parte quer ter a razão e é difícil convencer alguém a dar o braço a torcer”, diz Nilson. O empresário Fabio Melo, 34 anos, síndico do Edifício Barcelona, na QNL 15 de Taguatinga Norte, desde 2009, já teve que enfrentar todo tipo de situação complexa. “Uma vez, um morador arranhou o porta-malas de um vizinho de garagem, por raiva. Ele só não sabia que seria flagrado pela câmera de segurança. Nesse dia, tivemos que chamar a Polícia Militar e levar a pessoa para a delegacia”, relata. Para ficar por dentro de tudo que acontece no prédio, Fabio recorre ao livro de ocorrências, ao e-mail, ao telefone e até as redes sociais.

A administradora Maria Veridiana da Costa, 48, síndica do Edifício Veneza há cinco anos, também já teve que lidar com os mais direfentes conflitos. Ao todo, são 235 apartamentos, divididos em três torres — quase um pequeno município. Com tantas pessoas convivendo no mesmo ambiente, é difícil não surgirem tensões entre elas. “Tem um morador, por exemplo, que se recusa a seguir qualquer regra. Faz barulho, liga música a hora que quer, briga com os vizinhos e até solta os cachorros no corredor. O único jeito é enviar multas e advertências”, detalha. Para ela, é importante tentar manter uma relação de amizade com os vizinhos, pois ajuda na resolução dos problemas. “Como síndica, eu já assumo um papel de autoridade, então tento ter a melhor relação possível para não criar antipatias”, completa.

Profissionalização

Devido à falta de moradores dispostos a se encarregar da administração predial e ao despreparo de muitos para cumprir a função, vários condomínios têm optado por contratar um síndico profissional. Segundo a Assossíndicos, há cerca de 300 pessoas trabalhando no ramo no DF, encarregados por aproximadamente 700 edifícios. Síndicos-moradores, no entanto, também podem procurar se especializar. A Escola de Síndicos da Assossíndicos está com inscrições abertas para o curso básico, com o intuito de capacitar profissionais que atuam em condomínios de Brasília. O treinamento é gratuita e os inscritos receberam certificados válidos em todo o território nacional.

O presidente da Assossíndicos, Paulo Roberto Melo, ressalta a importância de os síndicos procurarem se capacitar. “O condomínio vai se beneficiar muito e, dessa forma, o síndico-morador também ganha. Saber mais sobre a profissão ajuda a abrir a visão como administrador e facilita a rotina”, defende.

Programe-se

Curso Básico de Síndicos — Assossíndicos

Em 2, 9, 11, 16 e 18 de junho, das 19h às 22h. Gratuito.

Local: auditório do 7º Batalhão de Polícia Militar — EQSW 2/3, Área Especial, Sudoeste.

Inscrições: www.assosindicos.net

Informações: (61) 9665-5755, 8497-2015 ou 9993-9155.


Fonte: Correio Braziliense (baixar PDF)

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