O condomínio brasileiro virou um retrato fiel do país: uma mistura de informalidade institucional, desrespeito às regras e disputa por poder mal compreendido
A convivência condominial no Brasil derreteu. Os corredores silenciosos hoje escondem guerras frias entre vizinhos, síndicos encurralados por acusações sem provas e conselheiros que se acham prefeitos de uma cidade sem constituição.
Mas como chegamos nesse ponto? Quando o lar passou a ser território de desconfiança e ataque?
A resposta não está apenas nos moradores. Nem apenas nos síndicos. Está em todos nós — e na forma como aprendemos (ou não) a conviver em coletividade.
O condomínio como micro-Brasil
O condomínio brasileiro virou um retrato fiel do país: uma mistura de informalidade institucional, desrespeito às regras e disputa por poder mal compreendido.
Síndicos despreparados tecnicamente e emocionalmente foram empurrados ao cargo sem formação, sem apoio e, muitas vezes, movidos por ego ou conveniência.
Do outro lado, conselheiros que confundem fiscalização com intervenção, assumem posturas executivas, vetam decisões operacionais e criam comissões paralelas para “comandar o condomínio por dentro”.
E os moradores? Estão saturados da má gestão e do caos — mas também alimentam o conflito com críticas vazias, julgamentos sem base e ironias em grupos de WhatsApp, que transformam qualquer erro de manutenção em escândalo moral.
A democracia dos despreparados
O condomínio é, por definição, um regime democrático. Mas como toda democracia, sem educação, vira gritaria.
Temos assembleias que mais parecem julgamentos sumários. Conselhos atuando como legisladores que querem executar. E síndicos — que deveriam ser gestores — sem preparo emocional para suportar o desgaste diário, nem técnico para sustentar suas decisões.
É uma crise de liderança, comunicação e responsabilidade compartilhada.
Do ponto de vista jurídico, assistimos a uma banalização de termos como “má gestão”, “prestação de contas” e “abuso de poder”, muitas vezes usados como retórica política dentro do condomínio, sem fundamento legal — criando ambiente hostil e desestruturado para qualquer tentativa de boa governança.
Nem tudo está perdido
Apesar do caos, algo começou a mudar. Uma nova geração de síndicos e síndicas profissionais está investindo em educação, formação e especialização. É a revolução silenciosa da profissionalização.
Plataformas como o Síndicolab, a Universidade Condominial, a Assosíndicos DF, INCC, Síndiconet e outras frentes de capacitação estão reescrevendo o papel do gestor condominial.
Cursos de gestão predial, legislação aplicada, comunicação, inteligência artificial e liderança emocional estão formando profissionais com postura, conhecimento e ferramentas reais para gerir pessoas, conflitos e patrimônios bilionários com seriedade.
Essa evolução representa não apenas um salto técnico, mas também uma profissionalização jurídica da gestão condominial — com mais responsabilidade, compliance, prestação de contas e governança participativa.
O nascimento de um ecossistema
A chegada do Condo Huby, um projeto ousado idealizado por grandes empresas do setor, traz consigo uma nova era de transformação para o mercado condominial.
Com investimento de 10 milhões de reais, o espaço — localizado na Zona Sul de São Paulo — é um centro físico de educação, networking e troca de experiências para todo o ecossistema condominial.
Aberto para síndicos, síndicas, conselheiros, funcionários e moradores, o Condo Huby representa uma ruptura com o amadorismo e inaugura um novo capítulo na história da gestão condominial no Brasil: o da inteligência colaborativa.
O síndico do futuro já chegou
A figura do síndico despreparado está com os dias contados.
No lugar, surge o gestor profissional, treinado, certificado, conectado com as melhores práticas e ferramentas do mercado — e agora também com o suporte jurídico necessário para operar com segurança e legitimidade.
A convivência em condomínios ainda tem muitos desafios, mas agora conta com lideranças preparadas para a paz — não para a guerra.
Sim, o inimigo ainda pode morar ao lado. Mas também pode ser o vizinho que vai te ajudar a construir o condomínio que você merece.
Por Rafael Bernardes, CEO do Síndicolab, e Felipe Faustino, advogado no escritório Faustino & Teles